Thursday, November 01, 2007

A ciudad de la furia me recebeu ensolarada mas os presságios do taxista que me conduziu ao hotel, me remeteram à dias nebulosos.
Me perguntou o motorista : veio fazer turismo em Buenos Aires ? E eu respondi : “ não, vim para ver o recital do Soda Stereo no estádio do River”.
A partir daí aquele condutor passou a discorrer sobre suas experiências de concertos no Monumental de Nuñes, a mais recente delas, o show do Guns n`Roses. Então me contou que havia chegado às 8 da manhã e conseguido um lugar muito perto do palco, mas que quando começou o recital foi tanta confusão que terminou o show vendo tudo de muito longe. Me disse :"depois de estar tão perto do palco , terminei por ver os músicos como formiguinhas". O tom profético com que me falou não abalou o meu otimismo de fã baseado na minha longa experiência de vários de concertos e festivais de rock.
Enfim, o dia 19 chegou. Tinha decidido que chegaria ao estádio do River à tarde. Às 16 já estava na avenida Libertador e o mesmo otimismo que me invadiu ao ver que a fila para o campo se movia ordenadamente, ruiu nos vinte minutos seguintes em que buscava desesperadamente o final dela. Parecia interminável aquele séqüito de fãs ávidos por celebrar o reencontro da maior banda de rock latino. Foi uma hora e meia de pé sob o sol da tarde na longa fila. Já imaginava o pior : que quando entrasse no campo ele já estaria todo tomado por milhares de pessoas e que só me restaria ver o Soda como formiguinha tal qual o condutor do táxi me contara.
Para minha surpresa ainda havia bastante lugar do lado direito do palco e ali como uma especialista em táticas de sobrevivência em grandes arenas roqueiras, finquei meus pés.
Diferentemente do que ocorre no Brasil, ali não era permitida a venda de bebida alcoólica, nem mesmo fora do estádio e isso parecia determinante para eu entender como o público argentino se comportaria antes e durante todo o show. Havia uma calma aparente; aparente , eu disse. A verdade era – todos estavam concentradíssimos no que estava prestes a acontecer – depois de 10 anos de ausência a maior banda de rock latino estaria ali de novo , na nossa frente, ou melhor na frente de 70 mil pessoas.
O clima de tensão foi quebrado por alguns minutos quando Zeta apareceu no palco, ainda com dia claro, para nos brindar com sua simpatia e carinho e dezenas de celulares se ergueram ao ar para saudar ( e registrar ) o astro.
Aqueles instantes passavam lentamente... uma eternidade que terminou enfim quando as luzes se apagaram.
Por um segundo percebi que uma bomba estava prestes a explodir, e me sentia pronta para a avalanche de emoções que viria.
Uma onda de decibéis se ergueu e aquele tsunami stereo tinha um nome: Cerati, Bosio e Alberti.....SODA !!!
Da introdução com “Algun Dia” aos primeiros acordes de “Juego de Seduccion” ..... 1,2,3 4 ! A eternidade da espera foi pelos ares! Adolescentes que nunca tinham visto o Soda, nostálgicos descrentes do regresso e uma brasileira que jamais imaginaria estar diante do maior ícone do rock latino, foi uma explosão de emoção coletiva ! Nunca tinha visto nada igual aquilo; as pessoas saltavam, gritavam ,cantavam....Por um momento me dei conta que “Te llevaré hasta el extremo”, já não era mais um refrão na voz de Cerati e sim uma promessa de momentos inesquecíveis .
Nessa hora fui arremessada de um lado a outro e numa tentativa inútil de tentar me segurar, meu namorado teve o seu dinheiro roubado por alguém que parecia alheio a importância histórica daquele momento.
O estádio do River explodiu!!!!!!!

Optei por ficar mais atrás onde o ar era mais abundante e de onde eu podia vê-los, ouvi-los, cantar, saltar e dançar com mais tranqüilidade...Vi várias "chicas" saindo carregadas (desmaiadas).
Me lembrei dos presságios do motorista de táxi, mas a minha alegria era inabalável e o meu humor blindado ignorava os empurrões e aqueles que estavam ali e só sabiam cantar os hits da banda.
Um turbilhão de emoções bombardeava meu cérebro.... Havia tanta alegria e entusiasmo entre os três músicos que tive a impressão de que a linha do tempo que os separou era tão tênue que talvez nunca tivesse realmente existido.
Senti que Soda era SODA, uma instituição do rock argentino; algo maior que todos os desentendimentos de Cerati, Alberti e Bosio.
“Ciudad de La Furia” , o clássico indispensável, verdadeiro hino, foi de arrepiar e na balada “Corazón Delator”, Cerati mostrou que a voz ainda está em dia, como nos velhos tempos.
A sequência “Danza Rota”, “Persiana Americana”, “Fue” e “En Remolinos” foi inesquecível – um dos melhores momentos do show se é que se pode escolher um.
De repente, tive o mesmo pensamento de 10 anos atrás – não entendia porque aquela banda tinha decidido encerrar a carreira no auge da seu processo criativo e amadurecimento musical . "Sueño Stereo" , o último album de estúdio era a prova da minha incompreensão para aquele fim prematuro.
Fui invadida por aquela onda nostálgica de velhos hits e me deixei levar pelos riffs mortais da saudosa Jackson , a favorita de 9 entre 10 guitarristas nos anos 80. Haveria de fato uma preocupação de Cerati em soar fiel as versões originais dos clássicos soderos ???
A verdade era uma só – o tempo não passou para o Soda Stereo.
A energia, a química e o carisma permaneceram intactos nestes últimos anos.
Soda ainda vive e os fãs agradecem.











3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Mááárcia!!!!!!
Muuuiiiiito boa sua crônica!!!
Já disse antes e repito aqui:
Suas palavras revelam sua emoção!!!
Escreva mais! Escreva sempre!

E adorei a foto "SODA no tiene precio"!

3:22 PM  
Blogger ORBE said...

Gracias, amiga !!
bjssssss!!

4:39 PM  
Blogger Unknown said...

Marcia,

Passei por algo muito, muito parecido no último show da Gira -ou do Soda, talvez - no dia 21 de dezembro. Só vi Cerati bem de perto nos dois primeiros números. A pressão do público era imensa e o calor, insuportável. Achei melhor me afastar e logo notei que perdera minha máquina fotográfica, guardada num bolso da bermuda, que estava com botão. Isso estragou um pouco minha noite e me afastei ainda mais do palco e acompanhei o show à distância, um tanto chateado. Mas valeu.
3/09/08

7:42 PM  

Post a Comment

<< Home