Wednesday, November 28, 2012

JULIANA R



Numa época em que "telós" e outras espécies do gênero habitam comerciais de tvs e trilhas sonoras de novelas, parece surpreendente ver um anúncio com um rock latino circulando na televisão brasileira. E quando se escuta algo novo em castelhano por essas terras de língua portuguesa, aguça a curiosidade pela  busca de mais informação. Nada que o google não possa resolver com algumas palavrinhas memorizadas do refrão repetido no comercial. Descobri que a dona da voz daquele espanhol com sonoridade indie é uma brasileira - a paulistana, JULIANA R . A canção que cativa logo à primeira audição, chama-se "El Hueco".

Com um disco no currículo lançado pela pequena YB Music, ela convence com a boa voz e a criatividade de suas canções, fruto de influências que vão da Tropicália ao Velvet Underground; de música da Jamaica dos anos 70 à Bossa Nova. Com toda essa mistura de estilos tão distintos parece inapropriado situar a música da artista nessa onda do "novo folk", como já tentaram. Ouvindo as canções do seu disco, algumas também em inglês, além do espanhol, percebe-se a busca da cantora/compositora  por uma sonoridade própria com a qual tenta conquistar seu próprio espaço. JULIANA ainda mantém o seu MySpace onde em 2009 lançou um EP com 4 temas dando início a sua carreira.  Outros trabalhos em que ela teve participação incluem o DVD "Amigos Invisíveis - 20 anos", como backing vocal ao lado de Edgar Scandurra e o projeto "Les Provocateurs", uma coleção de covers em francês de Serge Gainsbourg, France Gall e Françoise Hardy interpretados por ela e pelas cantoras Bárbara Eugênia e Andrea Merkel.

Monday, March 15, 2010



CÉU
Contaminada pela máxima rodriguiana de que "toda unamidade é burra", sempre olho com desconfiança aqueles artistas novos ou estreantes que são exaltados pela crítica. Por essa razão demorei um certo tempo para me convencer de que o segundo album da cantora CÉU , o elogiadíssimo "Vagarosa", merecia uma audição.
E como não há verdade absoluta, nem quando se trata do genial Nelson Rodrigues, escutei atentamente o disco e...confesso, é bom; tão bom que a crítica internacional o apontou como o melhor lançamento de música brasileira no ano de 2009.
Com "Vagarosa", Céu quebrou um jejum de 40 anos em que uma artista brasileira não frequentava a parada da Billboard ( a última vez que isso aconteceu foi com Astrud Gilberto cantando "Garota de Ipanema").
O sucesso da cantora e de seu disco deve-se não somente à sua bela voz, cool e chique, mas também à sua super banda que proporciona arranjos sofisticados que flertam com o jazz, em canções que estão longe das obviedades sonoras da nossa MPB. Boas faixas como ,"Cangote" e "Cordão da Insônia", tem acento reggae. Outras surpreendem como "Grains de Beauté" que tem uma sonoridade mais orgânica e navega por nuances que lembram um trip hop acústico. Outro grande momento é "Nascente" que tem uma introdução portisheadiana e depois oscila entre o jazz e blues, mas que ao final ganha ares de rock.
E quem disse que Céu não faz poesia ?
"Em cada fio de cabelo/ das pedras nasce um novelo/que aos poucos se movimenta/semd ar adeus à nascente/parte como uma serpente/engole o que vê na frente/se arrasta, engrossa e aumenta/ E o rio de água cinzenta/corre, empurra, rasga e roça/ tatuando na pele grosa/ do chão de carne barrenta" (Nascente).
E se achou pouco, além da bela voz, Céu ainda é linda.

Wednesday, March 03, 2010

O que seria um "punk tropical" ? TETINE é a resposta, ou pelo menos é assim que Bruno Verner e Eliete Mejorado definem a música que produzem. A dupla se encontrou em 95 na cidade de São Paulo, quando o pós-punk, a new wave e o synth-pop eram somente ecos de um passado esquecido. Mas foi a partir de 2001, na distante Londres, que o Tetine começou a tomar forma. Misturando arte, música e vídeo, a dupla brasileira começou a se apresentar em galerias de artes, museus e centros culturais da Europa.
Editaram vários discos, sendo que o mais recente atende pelo sugestivo nome de "Let your X`s be Y`S " pela Soul Jazz records.
A música que produzem é uma mescla de muitas sonoridades dos anos 80, onde um teclado synth pop pode muito bem encontrar um baixo funkeado. O resultado nos remete a algo mais eletro, em temas como "Tropical Punk" e "What a gift to get". Serão os sucessores do Cansei de Ser Sexy?
Ma há também lugar para o funk bem humorado, "Pelada no Flamengo", com levada "London Calling" do the Clash (estaria aí decifrado o tal punk tropical ???).
Bruno e Eliete são uma espécie de embaixadores da música underground brasileira. Lançaram a compilação "Funk carioca- 2004" ( o primeiro do gênero fora do Brasil) e ainda produziram em 2007, uma coletânea de grupos paulistas pós-punks dos anos 80 ("Sexual Life of the Savages").

Friday, September 25, 2009



TRIBUTO À LEGIÃO URBANA
Quando o Bajofondo fez sua apresentação no Rio em maio, foi uma surpresa incrível a aparição de dois convidados ilustres: Dado Villalobos e Marcelo Bonfá, guitarrista e baterista do extinto e cultuado grupo Legião Urbana.
Ninguém sabia que entre os músicos do grupo de tango eletrônico, havia ardorosos fãs de uma das maiores bandas de rock do Brasil cujo fim foi decretado com a morte do líder Renato Russo.
Na década de 80 (ou será que foi em 90?) a Legião andou tocando por terras uruguaias o que acabou por influenciar e cativar muitos jovens musicos na época.
Ali , juntos no palco do Bajofondo, se reuniram pela primeira depois de mais de dez anos, Marcelo e Dado, para interpretar "Indios" com andamento de tango eletrônico! Foi um encontro emocionante.
Essa aparição juntos parece ter sido a pedra fundamental para se pensar numa possível série de shows-tributo à Legião, algo que ainda teria que ser acertado com a irmã de Renato Russo que detém os direitos autorais das composições da banda.
A verdade é que no sábado passado (19/09), aconteceu um show-tributo à Legião conduzido por Dado e Marcelo e com a participação de músicos uruguaios. Foi no festival "Porão do Rock" promovido em Brasília por ocasião do aniversário da cidade.
Taí a foto de Maurício Valadares, registrando o encontro (em pé: Guzmán Mendaro(2nd guitarra) ; Mateo Moreno (baixo) André Gonzáles (Moveis Colonias de Acajú) ;Dado; Bonfá; Gustavo Montemurro(teclados).
Abaixados: PJ (baixista -Jota Quest); Carlos Tara (empresario); Toni Platão (cantor); Sebastián Teysera (cantor de La vela puerca) .

Também tocou no festival o grupo argentino, de La Plata, El Mato a un Policia Motorizado.




Friday, September 11, 2009


Aos 50 anos e com uma carreira exitosa como solista Gustavo Cerati, não precisa provar nada para ninguém. Não necessita se recriar ou se reinventar em uma fórmula ou estilo musical para mostrar o quanto é talentoso.
Com o antecessor “Ahí Vamos” ele quis ser roqueiro quando já não necessitava se auto afirmar como um dos maiores ícones do rock argentino e latino.
Para que produzir um disco inteiro com um montão de rocks padronizados e seus inseparáveis clichês se é justamente a mistura de estilos distintos o que nos fascina em sua música? Nos raros momentos em que GC deixou os clichês roqueiros, conseguiu belas canções como "Lago En el Cielo", "Outra Piel " e "Médium"....enfim ouviu-se temas autenticamente ceratianos.

Agora com FUERZA NATURAL, Cerati parece insistir no mesmo equívoco, ao escolher um estilo (country e/ou folk ) para marcar todo o seu disco, como se o seu talento fosse pequeno para criar um disco eclético, rico em estilos e texturas musicais.
Ele disse que FN é o seu melhor disco - uma reunião de todos os outros discos de sua carreira como solista.
Se FN é um compilado sonoro, lírico e estético de seus trabalhos anteriores, por que razão decidiu fazer música em estilo country ou folk ?
Por que adotar um único estilo em 80% de FN, quando poderia se permitir uma maior liberdade de criação ? !
Prefiro GC livre de conceitos sonoros e estéticos.
E sendo um disco conceitual, qual é o verdadeiro conceito de "Fuerza Natural"?
O título fuerza natural, segundo o próprio Cerati disse, tem a ver com as forças da natureza e a princípio me pareceu muito apropriada essa escolha , quando o meio ambiente é dos um temas mais debatidos e preocupantes deste século. Mas também, segundo ele, faz referências às forças internas e há aí um tremendo toque de esoterismo (“Deja Vu”, “magia”, “#”, etc. ).
Depois de conhecermos o título, nos foi revelada a capa, na qual também tentei buscar o tal conceito já anunciado pelo artista.
Um disco de folk /country com o nome de Fuerza Natural , evoca a idéia do campo, da natureza, algo muito bucólico.....certo ? Mas a capa surrealista ( que é bonita) traz uma imagem urbana com edifícios muito altos. No céu surge um cavalo e seu cavaleiro....seria Cerati de cowboy espacial no seu delirante sonho country ? O homem do cavalo é um mascarado com cara de fantasma da ópera ou seria um árabe ou um tuareg ?
O primeiro tema que se conheceu, foi “Deja Vu”. Nada de country/folk o que fez aumentar a curiosidade sobre o disco.
"DejaVu" é uma canção com um sotaque pop-melódico do Killers e com marcações de guitarra a lá Strokes. Na letra, Cerati fala da sensação de deja vu, talvez com a intenção de evocar algo místico. Não é uma canção ruim mas tampouco pode ser considerada um super tema de Cerati. Imaginei que para um single, ele tem capacidade para fazer algo melhor.
Mas “Deja Vu” talvez nos quizesse dizer mais alguma coisa com : “esa cancion ya se escribio hasta el mínimo detalle”.
Cerati disse certa vez, que FN teria um pouco de tudo do que ele já escreveu anteriormente, mas o disco parece que é um compilado do que já foi escrito por outros artistas e não por ele. Não se pode negar que aí há muito da música de Dylan, Simon & Garfunkel, Elo, Tom Petty e muitos outros roqueiros setentistas que flertaram com o folk.
A faixa-título, “Fuerza Natural”, é uma boa canção folk que ao final ganha toques psicodélicos, algo bem típico das bandas de rock do anos 70 que exploraram esse estilo. A bela melodia e o arranjo elaborado fazem de "Fuerza Natural" a canção que conseguiu a melhor síntese da fusão folk e psicodelia.
“Deja Vu” é a segunda faixa e corta o clima folk-country-psicodélico tanto anunciado por Cerati.
Então vem “Magia” que ainda que tenha uma boa melodia, tem a pior letra e arranjo do disco. A música começa com uma guitarra country que você já ouviu milhões iguais e o solo de guitarra ao final não tem nada a ver com o resto da música....um solo clássico à lá Y. Malmsteen. A letra é muito pobre e parece que foi tirada do livro do Paulo Coelho, “Diário de um Mago” (1987). Naquela época só se ouvia por aqui a frase “o universo conspira a nosso favor” que na música de Cerati ficou “ él universo está a mi favor “ ou “todo conspira a mi favor” .
Então vem “Amor sin Rodeos” com aquele rítmo country muito americano e uma letra que parece feita para tema de novela . Fiquei imaginando um americano escrevendo um tango...
“Traccion à Sangre” é outro folk com boa melodia e arranjo, mas peca pela falta de originalidade. Se parece muito com Simon & Garfunkel e ainda faz referências à Bob Dylan ( “la respuesta esta en el viento/tema Blowing in the wind). Tudo muito óbvio.
Então vem “Desastre” e muda tudo. Aí está o que melhor GC sabe fazer: transformar uma influência em algo seu. A guitarra tem uma inspiração de Strokes , mas essa música ao final se converte em algo totalmente ceratiano com sua maneira de cantar e sua melodia. O ritmo é ótimo e contagia. Um dos melhores temas de "Fuerza Natural".
Quando começou “Rapto” fiquei com a sensação de que FN deixaria de lado o seu sotaque country. Essa música segue mais ou menos a mesma linha de “Desastre” . Começa com um tecladinho e logo entra um riff vibrante da guitarra de Cerati. Também é uma das melhores canções do disco pelas mesmas razões de sua antecessora – tem a marca cerati. O arranjo é ótimo e aquelas palmas, tipicamente dos grupos de rock dos anos 70, ficou perfeita no final. A melodia é boa e a letra é bem sexy.
"Cactus" resgata o folk outra vez. Só que agora o folk é algo folclórico da América do Sul e nada dos EUA. Muito mas pelo arranjo do que pela melodia, "Cactus" é um dos temas mais interessantes do disco.
A seguinte, “Naturaleza Morta” vem em clima country yankee, algo medio Tom Petty. Soa muito pouco criativa. Uma das piores.
Cerati põe de lado o country e o folk outra vez e ataca com “Domino” , um rock que me pareceu bem moderno e com arranjo muito bom. O problema é que a melodia é fraca.
“SAL” é outra excelente canção , pelo simples fato de ser um dos poucos temas autenticamente ceratiano. Enfim, um piano se destaca em meio a tantas cordas, com a voz de Cerati cheia de poesia e em uma linda melodia acompanhada de sua guitarra magnífica. O problema é que quando o tema esta por terminar Cerati muda por completo o arranjo para inserir uma guitarra folk que não tem nada a ver com a música. Uma tentativa desastrosa de fazer um link com o clima folk/country de FN em um tema que fala de mar e não de montanha e campo.
“Convoy” é mais uma música meio folk com um certa psicodelia Beatles, algo já explorado por tantas bandas mundo afora. Não há nada criativo aí e nem a melodia pode se dizer que é boa.
“He visto Lucy” é mais uma canção de influência Beatles . É o tal psicodelismo de Lucy with the Sky with Diamonds, quem agüenta mais um tema assim ?????
Então a surpresa oculta : “#”. A letra é interessante e criativa . Mas somente isso. A melodia e o arranjo é muito parecido com aquela fusão folk - rock progressivo dos anos 70 que o Pink Floyd fazia. Quando entra a bateria se torna um tema pinkfloydiano. Assim que não dá para considerar essa música como uma boa composição. Não tem nada de original e nada a ver com Cerati.
Por fim, “Fuerza Natural” não é disco todo mal . Assim como “Ahí vamos” tem momentos de altos e baixos.
Não sei se FN é um delírio hippie folk psicodélico de Cerati que chega aos 50 anos com idéias místicas e querendo se aventurar por outros campos musicais ; ou se como “Ahi vamos” foi um laboratório para a volta do Soda Stereo em 2007 , esse disco seria o mesmo para um suposto “acústico” do artista num futuro próximo....quem vai saber ?
O que sei é que esse disco esta muito abaixo do que Cerati pode produzir como grande artista que é . Esperava mais.









Saturday, November 24, 2007


Em Santiago do Chile, Rock +eletrônica+punk é = ROCK HUDSON.
Solução raciocinada: Rock Hudson é uma banda chilena eletrônica que mistura influências de rock e punk com muitos beats eletrônicos . O resultado ? Música eletrônica da melhor qualidade com muita criatividade e que no cabe em um único rótulo....pode ser um eletro-rock-pop com clima Curve, como na ótima , “You could be me”.... ou algo mais viajante e eletrônico em sua essência, como “Perry Franky Miller Gajardo”. Podem soar também mais melódicos com um refrão super pop como em “Curb” ... ou quem sabe, com pitadas de chill out como “Samba Triste” que tem letra em português . Também podem ser mais dançantes com toques de deep house com o tema “Sambacanuta”. Perceberam por quantos caminhos da eletrônica o RH te leva ?
A bela voz da vocalista Nera é um elemento a mais para que a música do Rock Hudson te conquiste logo na primeira audição.
O grupo formado em 2001 se completa com Fernando Lasalvia (guitarra /baixo/vocal), Pedro Comparini (bateria/teclados/ Turntables) , Sarasa (guitarra solo) e Pelao (baixo).
Eles já têm 2 discos oficiais "El Elela" (2004) e "Quintana Roo" (2006), pelo selo la oreja.
Já conquistaram prêmios importantes: o de “Banda Revelação” pela Associação de Imprensa do Chile e o de “Melhor banda eletronica” em Milão no festival The Diesel-u-music . Sim...eles já tocaram em vários países da Europa. No Chile, o RH foi a estrela de festivais como o Earthdance e Creamfields de lá e já até dividiram o palco com o Tiga.
Com todas essas credenciais alguém dúvida do talento do Rock Hudson ??!

Thursday, November 01, 2007

A ciudad de la furia me recebeu ensolarada mas os presságios do taxista que me conduziu ao hotel, me remeteram à dias nebulosos.
Me perguntou o motorista : veio fazer turismo em Buenos Aires ? E eu respondi : “ não, vim para ver o recital do Soda Stereo no estádio do River”.
A partir daí aquele condutor passou a discorrer sobre suas experiências de concertos no Monumental de Nuñes, a mais recente delas, o show do Guns n`Roses. Então me contou que havia chegado às 8 da manhã e conseguido um lugar muito perto do palco, mas que quando começou o recital foi tanta confusão que terminou o show vendo tudo de muito longe. Me disse :"depois de estar tão perto do palco , terminei por ver os músicos como formiguinhas". O tom profético com que me falou não abalou o meu otimismo de fã baseado na minha longa experiência de vários de concertos e festivais de rock.
Enfim, o dia 19 chegou. Tinha decidido que chegaria ao estádio do River à tarde. Às 16 já estava na avenida Libertador e o mesmo otimismo que me invadiu ao ver que a fila para o campo se movia ordenadamente, ruiu nos vinte minutos seguintes em que buscava desesperadamente o final dela. Parecia interminável aquele séqüito de fãs ávidos por celebrar o reencontro da maior banda de rock latino. Foi uma hora e meia de pé sob o sol da tarde na longa fila. Já imaginava o pior : que quando entrasse no campo ele já estaria todo tomado por milhares de pessoas e que só me restaria ver o Soda como formiguinha tal qual o condutor do táxi me contara.
Para minha surpresa ainda havia bastante lugar do lado direito do palco e ali como uma especialista em táticas de sobrevivência em grandes arenas roqueiras, finquei meus pés.
Diferentemente do que ocorre no Brasil, ali não era permitida a venda de bebida alcoólica, nem mesmo fora do estádio e isso parecia determinante para eu entender como o público argentino se comportaria antes e durante todo o show. Havia uma calma aparente; aparente , eu disse. A verdade era – todos estavam concentradíssimos no que estava prestes a acontecer – depois de 10 anos de ausência a maior banda de rock latino estaria ali de novo , na nossa frente, ou melhor na frente de 70 mil pessoas.
O clima de tensão foi quebrado por alguns minutos quando Zeta apareceu no palco, ainda com dia claro, para nos brindar com sua simpatia e carinho e dezenas de celulares se ergueram ao ar para saudar ( e registrar ) o astro.
Aqueles instantes passavam lentamente... uma eternidade que terminou enfim quando as luzes se apagaram.
Por um segundo percebi que uma bomba estava prestes a explodir, e me sentia pronta para a avalanche de emoções que viria.
Uma onda de decibéis se ergueu e aquele tsunami stereo tinha um nome: Cerati, Bosio e Alberti.....SODA !!!
Da introdução com “Algun Dia” aos primeiros acordes de “Juego de Seduccion” ..... 1,2,3 4 ! A eternidade da espera foi pelos ares! Adolescentes que nunca tinham visto o Soda, nostálgicos descrentes do regresso e uma brasileira que jamais imaginaria estar diante do maior ícone do rock latino, foi uma explosão de emoção coletiva ! Nunca tinha visto nada igual aquilo; as pessoas saltavam, gritavam ,cantavam....Por um momento me dei conta que “Te llevaré hasta el extremo”, já não era mais um refrão na voz de Cerati e sim uma promessa de momentos inesquecíveis .
Nessa hora fui arremessada de um lado a outro e numa tentativa inútil de tentar me segurar, meu namorado teve o seu dinheiro roubado por alguém que parecia alheio a importância histórica daquele momento.
O estádio do River explodiu!!!!!!!

Optei por ficar mais atrás onde o ar era mais abundante e de onde eu podia vê-los, ouvi-los, cantar, saltar e dançar com mais tranqüilidade...Vi várias "chicas" saindo carregadas (desmaiadas).
Me lembrei dos presságios do motorista de táxi, mas a minha alegria era inabalável e o meu humor blindado ignorava os empurrões e aqueles que estavam ali e só sabiam cantar os hits da banda.
Um turbilhão de emoções bombardeava meu cérebro.... Havia tanta alegria e entusiasmo entre os três músicos que tive a impressão de que a linha do tempo que os separou era tão tênue que talvez nunca tivesse realmente existido.
Senti que Soda era SODA, uma instituição do rock argentino; algo maior que todos os desentendimentos de Cerati, Alberti e Bosio.
“Ciudad de La Furia” , o clássico indispensável, verdadeiro hino, foi de arrepiar e na balada “Corazón Delator”, Cerati mostrou que a voz ainda está em dia, como nos velhos tempos.
A sequência “Danza Rota”, “Persiana Americana”, “Fue” e “En Remolinos” foi inesquecível – um dos melhores momentos do show se é que se pode escolher um.
De repente, tive o mesmo pensamento de 10 anos atrás – não entendia porque aquela banda tinha decidido encerrar a carreira no auge da seu processo criativo e amadurecimento musical . "Sueño Stereo" , o último album de estúdio era a prova da minha incompreensão para aquele fim prematuro.
Fui invadida por aquela onda nostálgica de velhos hits e me deixei levar pelos riffs mortais da saudosa Jackson , a favorita de 9 entre 10 guitarristas nos anos 80. Haveria de fato uma preocupação de Cerati em soar fiel as versões originais dos clássicos soderos ???
A verdade era uma só – o tempo não passou para o Soda Stereo.
A energia, a química e o carisma permaneceram intactos nestes últimos anos.
Soda ainda vive e os fãs agradecem.