Friday, September 25, 2009



TRIBUTO À LEGIÃO URBANA
Quando o Bajofondo fez sua apresentação no Rio em maio, foi uma surpresa incrível a aparição de dois convidados ilustres: Dado Villalobos e Marcelo Bonfá, guitarrista e baterista do extinto e cultuado grupo Legião Urbana.
Ninguém sabia que entre os músicos do grupo de tango eletrônico, havia ardorosos fãs de uma das maiores bandas de rock do Brasil cujo fim foi decretado com a morte do líder Renato Russo.
Na década de 80 (ou será que foi em 90?) a Legião andou tocando por terras uruguaias o que acabou por influenciar e cativar muitos jovens musicos na época.
Ali , juntos no palco do Bajofondo, se reuniram pela primeira depois de mais de dez anos, Marcelo e Dado, para interpretar "Indios" com andamento de tango eletrônico! Foi um encontro emocionante.
Essa aparição juntos parece ter sido a pedra fundamental para se pensar numa possível série de shows-tributo à Legião, algo que ainda teria que ser acertado com a irmã de Renato Russo que detém os direitos autorais das composições da banda.
A verdade é que no sábado passado (19/09), aconteceu um show-tributo à Legião conduzido por Dado e Marcelo e com a participação de músicos uruguaios. Foi no festival "Porão do Rock" promovido em Brasília por ocasião do aniversário da cidade.
Taí a foto de Maurício Valadares, registrando o encontro (em pé: Guzmán Mendaro(2nd guitarra) ; Mateo Moreno (baixo) André Gonzáles (Moveis Colonias de Acajú) ;Dado; Bonfá; Gustavo Montemurro(teclados).
Abaixados: PJ (baixista -Jota Quest); Carlos Tara (empresario); Toni Platão (cantor); Sebastián Teysera (cantor de La vela puerca) .

Também tocou no festival o grupo argentino, de La Plata, El Mato a un Policia Motorizado.




Friday, September 11, 2009


Aos 50 anos e com uma carreira exitosa como solista Gustavo Cerati, não precisa provar nada para ninguém. Não necessita se recriar ou se reinventar em uma fórmula ou estilo musical para mostrar o quanto é talentoso.
Com o antecessor “Ahí Vamos” ele quis ser roqueiro quando já não necessitava se auto afirmar como um dos maiores ícones do rock argentino e latino.
Para que produzir um disco inteiro com um montão de rocks padronizados e seus inseparáveis clichês se é justamente a mistura de estilos distintos o que nos fascina em sua música? Nos raros momentos em que GC deixou os clichês roqueiros, conseguiu belas canções como "Lago En el Cielo", "Outra Piel " e "Médium"....enfim ouviu-se temas autenticamente ceratianos.

Agora com FUERZA NATURAL, Cerati parece insistir no mesmo equívoco, ao escolher um estilo (country e/ou folk ) para marcar todo o seu disco, como se o seu talento fosse pequeno para criar um disco eclético, rico em estilos e texturas musicais.
Ele disse que FN é o seu melhor disco - uma reunião de todos os outros discos de sua carreira como solista.
Se FN é um compilado sonoro, lírico e estético de seus trabalhos anteriores, por que razão decidiu fazer música em estilo country ou folk ?
Por que adotar um único estilo em 80% de FN, quando poderia se permitir uma maior liberdade de criação ? !
Prefiro GC livre de conceitos sonoros e estéticos.
E sendo um disco conceitual, qual é o verdadeiro conceito de "Fuerza Natural"?
O título fuerza natural, segundo o próprio Cerati disse, tem a ver com as forças da natureza e a princípio me pareceu muito apropriada essa escolha , quando o meio ambiente é dos um temas mais debatidos e preocupantes deste século. Mas também, segundo ele, faz referências às forças internas e há aí um tremendo toque de esoterismo (“Deja Vu”, “magia”, “#”, etc. ).
Depois de conhecermos o título, nos foi revelada a capa, na qual também tentei buscar o tal conceito já anunciado pelo artista.
Um disco de folk /country com o nome de Fuerza Natural , evoca a idéia do campo, da natureza, algo muito bucólico.....certo ? Mas a capa surrealista ( que é bonita) traz uma imagem urbana com edifícios muito altos. No céu surge um cavalo e seu cavaleiro....seria Cerati de cowboy espacial no seu delirante sonho country ? O homem do cavalo é um mascarado com cara de fantasma da ópera ou seria um árabe ou um tuareg ?
O primeiro tema que se conheceu, foi “Deja Vu”. Nada de country/folk o que fez aumentar a curiosidade sobre o disco.
"DejaVu" é uma canção com um sotaque pop-melódico do Killers e com marcações de guitarra a lá Strokes. Na letra, Cerati fala da sensação de deja vu, talvez com a intenção de evocar algo místico. Não é uma canção ruim mas tampouco pode ser considerada um super tema de Cerati. Imaginei que para um single, ele tem capacidade para fazer algo melhor.
Mas “Deja Vu” talvez nos quizesse dizer mais alguma coisa com : “esa cancion ya se escribio hasta el mínimo detalle”.
Cerati disse certa vez, que FN teria um pouco de tudo do que ele já escreveu anteriormente, mas o disco parece que é um compilado do que já foi escrito por outros artistas e não por ele. Não se pode negar que aí há muito da música de Dylan, Simon & Garfunkel, Elo, Tom Petty e muitos outros roqueiros setentistas que flertaram com o folk.
A faixa-título, “Fuerza Natural”, é uma boa canção folk que ao final ganha toques psicodélicos, algo bem típico das bandas de rock do anos 70 que exploraram esse estilo. A bela melodia e o arranjo elaborado fazem de "Fuerza Natural" a canção que conseguiu a melhor síntese da fusão folk e psicodelia.
“Deja Vu” é a segunda faixa e corta o clima folk-country-psicodélico tanto anunciado por Cerati.
Então vem “Magia” que ainda que tenha uma boa melodia, tem a pior letra e arranjo do disco. A música começa com uma guitarra country que você já ouviu milhões iguais e o solo de guitarra ao final não tem nada a ver com o resto da música....um solo clássico à lá Y. Malmsteen. A letra é muito pobre e parece que foi tirada do livro do Paulo Coelho, “Diário de um Mago” (1987). Naquela época só se ouvia por aqui a frase “o universo conspira a nosso favor” que na música de Cerati ficou “ él universo está a mi favor “ ou “todo conspira a mi favor” .
Então vem “Amor sin Rodeos” com aquele rítmo country muito americano e uma letra que parece feita para tema de novela . Fiquei imaginando um americano escrevendo um tango...
“Traccion à Sangre” é outro folk com boa melodia e arranjo, mas peca pela falta de originalidade. Se parece muito com Simon & Garfunkel e ainda faz referências à Bob Dylan ( “la respuesta esta en el viento/tema Blowing in the wind). Tudo muito óbvio.
Então vem “Desastre” e muda tudo. Aí está o que melhor GC sabe fazer: transformar uma influência em algo seu. A guitarra tem uma inspiração de Strokes , mas essa música ao final se converte em algo totalmente ceratiano com sua maneira de cantar e sua melodia. O ritmo é ótimo e contagia. Um dos melhores temas de "Fuerza Natural".
Quando começou “Rapto” fiquei com a sensação de que FN deixaria de lado o seu sotaque country. Essa música segue mais ou menos a mesma linha de “Desastre” . Começa com um tecladinho e logo entra um riff vibrante da guitarra de Cerati. Também é uma das melhores canções do disco pelas mesmas razões de sua antecessora – tem a marca cerati. O arranjo é ótimo e aquelas palmas, tipicamente dos grupos de rock dos anos 70, ficou perfeita no final. A melodia é boa e a letra é bem sexy.
"Cactus" resgata o folk outra vez. Só que agora o folk é algo folclórico da América do Sul e nada dos EUA. Muito mas pelo arranjo do que pela melodia, "Cactus" é um dos temas mais interessantes do disco.
A seguinte, “Naturaleza Morta” vem em clima country yankee, algo medio Tom Petty. Soa muito pouco criativa. Uma das piores.
Cerati põe de lado o country e o folk outra vez e ataca com “Domino” , um rock que me pareceu bem moderno e com arranjo muito bom. O problema é que a melodia é fraca.
“SAL” é outra excelente canção , pelo simples fato de ser um dos poucos temas autenticamente ceratiano. Enfim, um piano se destaca em meio a tantas cordas, com a voz de Cerati cheia de poesia e em uma linda melodia acompanhada de sua guitarra magnífica. O problema é que quando o tema esta por terminar Cerati muda por completo o arranjo para inserir uma guitarra folk que não tem nada a ver com a música. Uma tentativa desastrosa de fazer um link com o clima folk/country de FN em um tema que fala de mar e não de montanha e campo.
“Convoy” é mais uma música meio folk com um certa psicodelia Beatles, algo já explorado por tantas bandas mundo afora. Não há nada criativo aí e nem a melodia pode se dizer que é boa.
“He visto Lucy” é mais uma canção de influência Beatles . É o tal psicodelismo de Lucy with the Sky with Diamonds, quem agüenta mais um tema assim ?????
Então a surpresa oculta : “#”. A letra é interessante e criativa . Mas somente isso. A melodia e o arranjo é muito parecido com aquela fusão folk - rock progressivo dos anos 70 que o Pink Floyd fazia. Quando entra a bateria se torna um tema pinkfloydiano. Assim que não dá para considerar essa música como uma boa composição. Não tem nada de original e nada a ver com Cerati.
Por fim, “Fuerza Natural” não é disco todo mal . Assim como “Ahí vamos” tem momentos de altos e baixos.
Não sei se FN é um delírio hippie folk psicodélico de Cerati que chega aos 50 anos com idéias místicas e querendo se aventurar por outros campos musicais ; ou se como “Ahi vamos” foi um laboratório para a volta do Soda Stereo em 2007 , esse disco seria o mesmo para um suposto “acústico” do artista num futuro próximo....quem vai saber ?
O que sei é que esse disco esta muito abaixo do que Cerati pode produzir como grande artista que é . Esperava mais.