CÉU
Contaminada pela máxima rodriguiana de que "toda unamidade é burra", sempre olho com desconfiança aqueles artistas novos ou estreantes que são exaltados pela crítica. Por essa razão demorei um certo tempo para me convencer de que o segundo album da cantora CÉU , o elogiadíssimo "Vagarosa", merecia uma audição.
E como não há verdade absoluta, nem quando se trata do genial Nelson Rodrigues, escutei atentamente o disco e...confesso, é bom; tão bom que a crítica internacional o apontou como o melhor lançamento de música brasileira no ano de 2009.
Com "Vagarosa", Céu quebrou um jejum de 40 anos em que uma artista brasileira não frequentava a parada da Billboard ( a última vez que isso aconteceu foi com Astrud Gilberto cantando "Garota de Ipanema").
O sucesso da cantora e de seu disco deve-se não somente à sua bela voz, cool e chique, mas também à sua super banda que proporciona arranjos sofisticados que flertam com o jazz, em canções que estão longe das obviedades sonoras da nossa MPB. Boas faixas como ,"Cangote" e "Cordão da Insônia", tem acento reggae. Outras surpreendem como "Grains de Beauté" que tem uma sonoridade mais orgânica e navega por nuances que lembram um trip hop acústico. Outro grande momento é "Nascente" que tem uma introdução portisheadiana e depois oscila entre o jazz e blues, mas que ao final ganha ares de rock.
E quem disse que Céu não faz poesia ?
"Em cada fio de cabelo/ das pedras nasce um novelo/que aos poucos se movimenta/semd ar adeus à nascente/parte como uma serpente/engole o que vê na frente/se arrasta, engrossa e aumenta/ E o rio de água cinzenta/corre, empurra, rasga e roça/ tatuando na pele grosa/ do chão de carne barrenta" (Nascente).
E se achou pouco, além da bela voz, Céu ainda é linda.